Jomo Kenyatta, cujo nome de "batismo" era Kamau wa Ngengi, nasceu no território originário do povo Kikuyu. Sua tese de doutorado, Facing Mount Kenya, que foi orientada por Bronislaw Malinowski na London School of Economics, é considerada a primeira monografia antropológica produzida por uma pessoa africana sobre o seu próprio povo. Anos mais tarde, a história de Jomo Kenyatta se confundiria com a própria história do atual Quênia, uma vez que ele participou ativamente das lutas por independência e tornou-se o primeiro presidente do país.

Em muitos momentos, a sua atuação como político e presidente foi controversa e amplamente criticada, ainda que a sua importância e influência sejam inegáveis. Haja visto, por exemplo, o fato de que a sua família continua a participar diretamente da condução da política queniana. Seu filho Uhuru Kenyatta é o atual presidente, tendo assumido o cargo em 2013.

Não seria exagero dizer que a carreira política de Jomo Kenyatta pode ter contribuído para ofuscar os méritos e o pioneirismo de sua tese de doutorado em antropologia. Desafiando as suposições racistas de colonos, missionários e administradores coloniais, Kenyatta se propôs a mostrar que os africanos estavam "condicionados, pelas instituições culturais e sociais de séculos", a uma liberdade em relação à qual a Europa teria pouca ou nenhuma familiaridade e capacidade de compreender. Ignorando as leis consuetudinárias que regem a propriedade individual da terra, descritas por Kenyatta em detalhes, os colonos europeus confiscaram fazendas africanas sob a alegação de que a terra indígena era comunal. De um modo de vida próspero, virtuoso e saudável, o domínio colonial havia reduzido o modo de vida Kikuyu às ruínas e seus membros à servidão. Assim como no romance do premiado escritor nigeriano Chinua Achebe, O mundo se despedaça (1958), a monografia de Kenyatta descreve o impacto da colonização a partir da perspectiva africana.


Para saber mais:

KENYATTA, J. (1938/1961). “Prefácio” e “Conclusão”, In: Facing Mount Kenya, pp.xv-xxi, 309-318. Tradução de Messias Basques (sem revisão). PDF

PEATRIK, A.–M. (2021). Rivalidades e diálogos em torno da etnografia malinowskiana de Jomo Kenyatta, in Bérose - Encyclopédie internationale des histoires de l'anthropologie, Paris. PDF

Obras

1934. Kenya, in Nancy Cunard (org.), Negro Anthology, Londres Wishart & co, p. 803-806. Online

1937. Kikuyu Religion, Ancestor-Worship, and Sacrificial Practices, Africa, 10 (3) p. 308-328. Online

1938/1978. Facing Mount Kenya, The Traditional Life of the Kikuyu, Nairobi, Heinemann Kenya. PDF

1942/1966. My People of Kikuyu and the Life of Chief Wangombe. Nairobi, Oxford University Press.

1945. Kenya: the Land of conflict, Londres, Panaf Service.