Assim como a antropóloga e escritora afro-americana Zora Neale Hurston, Olivella via a literatura como campo de disputa da memória e das narrativas que informam as identidades e os valores socioculturais de pessoas e comunidades negras. Porém, tanto para Hurston quanto para Olivella não se tratava de escrever apenas para este público, mas a partir dele. Isto é, a literatura é entendida como um instrumento de luta contra o racismo e contra estereótipos criados a respeito de pessoas e comunidades negras, mas ambos os autores escreviam para o público em geral, para todo e qualquer leitor e leitora, a fim de que todos pudessem rever, repensar e transformar os seus preconceitos, mentalidades, formas de comportamento e discursos.

Nesse sentido, a obra de Olivella adquire uma dimensão e uma importância vital para o Caribe e a América Latina, como referência obrigatória de uma maneira afirmativa e revolucionária de abordar, narrar, registrar e refletir sobre os modos de vida e as práticas socioculturais afro-latino-americanas. Nas palavras de Olivella, [...] nuestra obligación como escritores y estudiosos de las ciencias sociales, es rescatar y dignificar este acervo colectivo, de los raseros impuestos por los usurpadores, cuando se dividen los pueblos en “civilizados” - los conquistadores - y “bárbaros” - los oprimidos (Zapata Olivella, 1997, p. 19).

Para George Palacios (2016) poderíamos comparar a experiência biográfica e intelectual de Olivella com pensadores negros como W.E.B. Du Bois (1868-1963). Ambos demonstram uma postura “herege” diante da “ortodoxia da modernidade” (Palacios, 2016, pp.551-2), desenvolvendo assim “contradiscursos ou contra-narrativas” que buscam tanto criticar os fundamentos e as consequências do racismo quanto construir outras práticas discursivas e outros entendimentos acerca do que significa ser um sujeito racializado na diáspora.

Para saber mais:

HIDALGO, Y. (1993). The culture of fiction in the works of Manuel Zapata Olivella. University of Missouri Press. PDF

PALACIOS, G. (2016). Manuel Zapata Olivella: un pensador político radical y hereje de la diáspora africana em las Américas. In: Aragón, W. M. (ed.). Manuel Zapata Olivella: un legado intercultural. Bogotá: Bolivar, pp.551-567.

TILLIS, A. (2005). Manuel Zapata Olivella and the “darkening” of Latin America literature. University of Missouri Press. PDF

Manuel Zapata Olivella Collections. Vanderbilt University. Online

Manuel Zapata Olivella, vida y obra. Universidad del Valle, Colombia. Online

Obras (disponíveis online)

1947. Tierra mojada
1948. Pasión vagabunda
1952. He visto la noche
1954. China 6 am
1960. La calle 10
1961. Cuentos de muerte y libertad
1962. El cirujano de la selva
1963. Detrás del rostro
1963. Chambacú, corral de negros
1964. En Chimá nace un Santo
1967. ¿Quién dio el fusil a Oswald?
1983. Changó, el Gran Putas
1983. Historia de un Joven Negro
1986. El fusilamiento del Diablo
1989. Hemingway, el cazador de la Muerte
1989. Chambacu, Black Slum, translator Jonathan Tittler, Latin American Literary Review Press.
1990. Fábulas de Tamalameque
1997. "La rebelión de los genes"
2010. Changó, the Biggest Badass, translator Jonathan Tittler, Texas Tech University Press.
2013. A saint is born in Chima: a novel. Translator Thomas E. Kooreman. University of Texas Press.